Capítulo 10
- Eu pensava que ela ia estar em mau estado, mas não tanto! - dizia Diogo.
Realmente, a casa estava pior do que qualquer um poderia imaginar. O chão principalmente junto à porta estava lamacento, se bem que a lama já se tinha espalhado por grande parte do piso.
As paredes estavam esburacadas, ao ponto de caber a cabeça de um humano nos buracos e ser possível ver a outra divisão através dos buracos. Nas esquinas das paredes, havia teias de aranha.
- João, tira o bloco de notas - disse André.
- Já o tenho na mão.
André começou a ditar as tarefas enquanto viam todo o piso inferior. Havia um quarto, uma cozinha, uma casa de banho e uma sala de estar. Subindo as escadas, no piso superior tudo estava em melhor estado. Existia alguma sujidade, é certo, mas nada que se comparasse às condições do andar de baixo.
Continuaram a vasculhar, e encontraram um quarto e uma grande sala, do tamanho de 3/4 do piso.
André continuava a recitar a lista de tarefas e quando terminou, disse:
- Bom, há dois quartos: um aqui e outro no piso de baixo. Vamos tirar à sorte e ver quem fica com o quarto de cima, com o de baixo e quem fica com nenhum.
- Mas como? - perguntou Diogo.
- Com três paus, cada um de tamanho diferente. Quem tirar o maior fica com o quarto de cima, o médio com o de baixo e quem tiver a pouca sorte de pegar no mais pequeno, vai ter de improvisar um quarto.
Os outros dois pareciam concordar com a decisão de André.
- Diogo, vai buscar três paus ao jardim por favor. Eu depois corto-os aqui e para não dizerem que escolhi o maior porque o conhecia, sou o último a escolher, ficando com o que sobrar.
- Parece-me bem - disse João.
Diogo foi em busca dos paus enquanto André e João ficaram onde estavam.
- Enquanto esperámos, vamos deixar as mochilas na sala grande - propôs João.
- Ora aí está a primeira coisa inteligente que disseste hoje.
João não pareceu ter entendido a piada, pois não respondeu como era costume.
Passados alguns minutos, Diogo ainda não havia voltado.
- Será tão difícil assim encontrar paus no jardim?! - dizia em tom de repreensão, João.
- Não me parece que seja. Vou lá ajudá-lo.
André desceu as escadas e saiu pela porta da frente. Encontrou três paus mesmo à entrada da porta, notavelmente cortados por mãos humanas. Porém, Diogo não estava lá.
- João! Andá cá!
O investigador desceu rapidamente as escadas e deu com André à entrada de casa.
- Boa, já temos paus! - disse João, rejubilante.
- Pois, paus temos, não temos é o Diogo.
João olhou em volta. Passou o olhar por todo o jardim e não havia sinais do amigo. Foi até ao portão de entrada, enferrujado, e dirigiu a sua vista até ao limite da estrada. Mais uma vez, não avistou Diogo.
- Que achas que aconteceu? - perguntou Diogo.
- Não sei. Pode ter ido dar uma volta.
- Uma volta?! Ele ia levar-nos os paus, não me parece que seja pessoa de deixar uma tarefa e os amigos pendurados!
- Sabes lá, tu mal o conheces! Não o vês há três anos, não sabes o que aconteceu enquanto esteve ausente nem se mudou!
- Olha lá, cuidadinho com o que dizes do Diogo! Posso não o ver há três anos mas eu conhecia-o!
André sabia que a discussão ia durar e que o temperamento de João o faria fazer algo que não pretendia. Por isso, acalmou-se e disse:
- Calma. Esperemos até logo à noite. Se ele não voltar, falamos com o Tom.
João assentiu e os dois voltaram para casa. Foram tratando do interior da moradia e com a noite, chegava o frio, por isso André acendeu a lareira.
- É de noite e o Diogo não voltou. Temos de ir falar com o Tom, aliás, deveríamos tê-lo feito logo - disse João.
André concordou e saiu com o amigo em busca da casa de Tom. Quando lhe contaram o que se passara, a sua reação assustou ambos:
- Não, outra vez não...