Capítulo 12
Tom tinha o prazer de desfrutar da melhor casa em Dong District. Afinal, enquanto lá estivessem, ele era o superior e decidiu escolher para ele a melhor e maior casa da região.
Tom acendeu a fogueira para se manter quente durante a noite gélida, puxou uma cadeira para junto da lareira, pegou num livro e começou a escrever. Na sua mente estava o que André lhe acabara de dizer e Tom, embora o tentasse ignorar, não podia fazê-lo sabendo que um dos seus investigadores corria perigo.
Levantou-se, dirigiu-se à porta e vestiu o seu sobretudo. Saiu à rua e procurou pela casa dos investigadores portugueses.
A noite estava fria, mais fria que o habitual na zona, e a luz que a Lua devia irradiar era pouca pois as nuvens ofuscavam-na. Tom olhava para as casas e via que as luzes estavam apagadas, mas à medida que caminhava, encontrou uma casa em que os moradores ainda não tinham apagado as luzes. Era a casa de André e João.
Tom abriu o portão ferrugento e bateu à porta. Na ausência de resposta, voltou a bater. Começou a ouvir passos no interior da casa, que se tornavam cada vez mais nítidos devido à sua aproximação. Depois, a porta abriu-se e apareceu André.
- Tom? O que fazes aqui a esta hora?
Tom entrou e disse rapidamente a André:
- Pega nos teus pertences e vem comigo.
André mostrava-se surpreso para com a atitude do instrutor, e mostrando sinais de dúvida, Tom repetiu:
- Pega nas tuas coisas depressa e anda comigo!
- Mas, então e o João? - perguntou André que percebera que algo de sério se passava.
- Diz-lhe para que pegue nas coisas dele e venha connosco. Há espaço suficiente em minha casa para todos.
André subiu as escadas, chamou João e alguns minutos depois estavam os dois no andar de baixo, junto a Tom, ainda com o robe de noite vestido.
- Venham, vamos para minha casa.
- O que se passa? - perguntou João.
- Explico tudo quando estivermos seguros em minha casa. Até lá, não quero que façam barulho e tentem andar o mais rapidamente possível.
Os dois amigos partiram atrás de Tom, seguindo as suas instruções. Passados alguns minutos, estavam em casa do instrutor.
- Porque é que ele tem uma casa destas e nós ficámos com uma a cair aos bocados? - perguntou João.
Tom não respondeu. Não considerou uma pergunta sensata naquela altura.
- Sentem-se. Está frio e já acendi a lareira.
Tom esperou que se sentassem e depois prosseguiu.
- André, o que me disseste em relação ao que viste colocou-te em perigo - dizia Tom.
O cientista não entendia muito bem o que Tom queria dizer, por isso Tom explicou.
- Há muito tempo, nesta zona, uma senhora idosa abriu as portas do abismo. Segundo diz a lenda, existia uma escritura que prometia dar a quem a lesse tudo o que essa pessoa quisesse. Há relatos de pessoas que dizem ter visto a velha a ler um papel escrito numa língua estranha.
Os dois cientistas tentavam assimilar toda a informação que lhes estava a ser dada.
- A lenda diz que apenas o escolhido seria capaz de ler aquela língua do abismo. E quando terminou a leitura, libertou os abismais.
- O que são abismais? - perguntou João.
- São animais do abismo. Embora assumam formas humanas, na realidade são feras e muito perigosas. Um abismal é capaz de matar entre três e cinco humanos de uma só vez, dependendo da sua idade.
- E o que aconteceu a essa velha? - perguntou, desta vez, André.
- Tornou-se o Superal dos abismais. É uma espécie de Deus do abismo, e além de ser mais forte do que possam imaginar, lidera todos os abismais.
André estava espantado com o que se passava naquela cidade.
- Mas porque razão querem eles apanhar o André? - perguntou João.
- O André tem informações sobre eles, sabe coisas sobre os abismais. Sabe-o porque viu a velha e apenas isso é razão para eles se sentirem intimidados. Afinal, foi a primeira pessoa a vê-la desde a leitura da escritura.
João e André estavam estupefactos com o que ouviam e tinham agora noção de que estavam a lidar com algo que eles nunca imaginariam.